‘Manual para casamentos’ da Igreja Católica gera polêmica em Apucarana

Após multar as noivas que se atrasam, a Igreja Católica de Apucarana se envolve em mais uma decisão polêmica. De um lado, a Diocese, que publicou normas e diretrizes para a celebração do matrimônio. De outro, noivos e profissionais que trabalham na organização de casamentos, que classificam a lista de exigências de “arbitrária”. Os pontos que mais geram discussão são as proibições do uso de músicas que não sejam sacras e da entrada dos padrinhos.

Além dessas duas restrições, o documento determina que casamentos não podem ser realizados fora da igreja, que fotógrafos e cinegrafistas precisam se cadastrar nas paróquias para trabalhar, além de dispensar o trabalho de promoters, assessores e demais profissionais na organização da celebração.

O bispo da Diocese, Dom Celso Antônio Marchiori, explica que as diretrizes apenas têm por objetivo orientar a organização do matrimônio. “Não são proibições ou imposições. Não criamos nada de novo, apenas queremos destacar o mais importante na celebração, que são os noivos. Por isso, listamos essas orientações para que o casamento seja realizado como determina a liturgia”.

O bispo critica a ‘espetacularização’ do casamento. “Muitos noivos perderam o significado sacramental do casamento. Ele está no mesmo patamar de sacramentos como a eucaristia”.

EFEITOS
Proprietário de estúdio fotográfico, Jair Ferreira não acredita que as normas afetarão muito o trabalho de fotógrafos e cinegrafistas. “Não vejo problemas em ter que se credenciar nas paróquias. Acho até positivo, pois o nome do profissional estará em evidência, o que favorece os bons profissionais”.

Ele explica também que a discrição pedida pelo documento a fotógrafos e cinegrafistas já é exercida. “Procuramos aparecer o mínimo possível. Utilizamos o flash só em último caso, quando é realmente necessário. Tomamos cuidado também com a vestimenta, que geralmente é terno e gravata pretos e bem discretos”.

ASSESSORIA
No entanto, outros profissionais serão mais afetados, como Fernanda Neira, assessora de eventos. “Foi uma imposição da Igreja, não houve conversa. Acredito que a Diocese deveria ter chamado os profissionais para dialogar e procurar um meio-termo, ainda mais quando mexe com os sonhos das pessoas. Acho que quem perde é a própria Igreja”, diz.

Segundo ela, a maioria dos noivos e noivas não aprovaram a lista de orientações. “Casamento é um sonho para muitas pessoas. Elas querem que seja o mais bonito possível, por se tratar de um momento especial. As exigências restringem o sonho de muitos noivos e noivas”.

NOIVOS
A bacharel em Direito Bruna Kelly Neves está noiva. Tanto ela quanto o noivo, o estudante José Carlos Júnior, foram pegos de surpresa pelas novasdiretrizes, e não concordam com o documento. “Acho errado querer vetar coisas que já se tornaram tradicionais em casamentos, como a entrada dos padrinhos e também o uso de músicas não-sacras. As diretrizes, de certa forma, prejudicam o casamento, por causa do sonho que eu e muitas pessoas tinham”.

Joiciléia Aparecida de Sá, que é técnica em radiologia, está noiva de Élton Vinicius Soato, que é faturista. Ela pondera. “Acho que proibir a entrada de padrinhos é razoável, porque existem pessoas que exageram e chamam dezenas de casais. Mas acho que as normas não deveriam ser tão rigorosas. Os assessores e promoters poderiam ter sido consultados, para que fossem cortados apenas os exageros”, opina.

As normas não valem apenas para Apucarana e abarcam todos os 37 municípios abrangidos pela Diocese de Apucarana. Em algumas paróquias, as regras passaram a valer desde o último final de semana.

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