Especialistas pesquisam vestígios da maçonaria em santuário na Grande BH


Profissionais defendem estudos para confirmar se compasso e esquadro encontrados no Santuário de Santa Luzia, na Grande BH, têm relação com a iconografia maçônica

Marco Aurelio Fonseca, responsável pelo inventário do Santuário de Santa Luzia, observa peças com traços maçônicos encontrados em 1989
Santa Luzia e Mariana – No Santuário de Santa Luzia, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o enigma está no altar de São José. Em 1989, durante restauração do templo, tombado pelo município e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), foram encontrados, na parte de trás do retábulo, um compasso e um esquadro esculpidos na madeira e em policromia dourada, que estariam relacionados à maçonaria. “Já está passando da hora de se fazer uma pesquisa profunda para esclarecer essa história”, defende a arquiteta e professora Selma Melo Miranda, lembrando que o assunto despertou o interesse da Promotoria de Defesa do Patrimônio Histórico e Turístico de Minas. 


É possível ver com nitidez a talha com o esquadro que, para os maçons, representa retidão e integridade de caráter, e o compasso, símbolo de equilíbrio, justiça e vida correta, já que foi deixada uma passagem sob a mesa do altar. Marco Aurélio Fonseca, diretor do Museu Histórico Aurélio Dolabella e responsável pelo inventário da igreja, informa que não há pesquisas conclusivas, principalmente sobre a época em que eles teriam sido esculpidos.


Segundo a tradição oral, diz Marco Aurélio, a madeira com o esquadro e o compasso pertenceriam ao forro do interior do camarim, depois ocultado em razão da ligação com a iconografia maçônica. “Como os entalhes do trono de São José são semelhantes ao altar-mor de Santa Luzia, é possível que ele estivesse à mostra no século 18”, afirma. No século seguinte, a exposição numa igreja católica criaria problemas para os padres, já que a bula Syllabus, editada em 1864 pelo papa Pio IX (1792-1878), proibia as relações da Igreja com a maçonaria. “Os símbolos poderiam também estar relacionados ao ofício de São José, que era carpinteiro, mas tudo vai demandar muita investigação”, acredita o diretor do museu.

Especificamente sobre o altar de São José, Marco Aurélio conta que as características estilísticas e as referências relacionadas à construção da igreja permitem dizer que ele foi feito entre 1750 e 1770. “A isso se soma a informação do professor e poeta Tibúrcio de Oliveira, já falecido, e provavelmente baseada em antigos livros da igreja, de que entre 1760 e 1776 o sargento-mor português Joaquim Pacheco Ribeiro, um dos promotores da construção da matriz, teria contratado ‘os serviços de moldura e de entalhe’ dos artistas Felipe Vieira e Francisco de Lima Cerqueira”, afirma.

Corpo e alma
Em Mariana, primeira vila, cidade e diocese de Minas, há uma curiosidade que vale a visita. A Igreja de São Francisco, do século 18, pertencente à Ordem Terceira de São Francisco, apresenta uma bela surpresa, que aguça os sentidos. Do lado direito do templo, localizado na Praça Minas Gerais, estão os altares com os santos que curam “as dores do corpo” – São Luís de França, São Lázaro, São Sebastião, São Manoel e São Roque – e, do esquerdo, aqueles que curam as “da alma” – Santa Clara, São Vicente Ferrer, Santo Antônio, Santa Rita, Santa Rosa de Viterbo e Santa Isabel de Portugal. Atualmente, a igreja está fechada devido ao estado de deterioração. Só quando houver segurança e obras concluídas é que moradores e visitantes poderão apreciar mais essa faceta do patrimônio de Minas 

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