As bruxas e os feiticeiros estão de volta?




Na Alemanha e na Bélgica pretendem reabilitar os habitantes locais que foram reconhecidos pela igreja no século XVII como culpados de bruxaria e queimados nas fogueiras. 

A Igreja Católica Romana também reconheceu os erros e a crueldade da inquisição, embora não pretenda celebrar missas de réquiem por hereges.

Em abril deste ano o Papa de Roma Benedito XVI pediu publicamente perdão pelos pecados da Igreja e prometeu fazer todo o possível para que os processos contra os dissidentes não se repitam mais.

As autoridades de ambos os países reconheceram ao nível oficial que a execução de cerca de cinqüenta bruxas e feiticeiros tinha sido um erro. Mais do que isso: pretende-se instalar estelas memoriais em homenagem a vítimas e promover festejos por este motivo.

De acordo com as estatísticas oficiais, nas fogueiras da inquisição da Idade Média morreram de cem a quinhentas mil pessoas. Aliás, alguns historiadores independentes afirmam que foram queimadas cerca de 12 milhões de pessoas. Reza a tradição que a inquisição mais cruel era a espanhola.

Mas na Alemanha, França e Bélgica os processos contra os hereges eram muito mais severos e, ao contrário da Espanha, praticamente não houve vereditos absolutórios. O facto de que precisamente as autoridades laicas resolveram, afinal, absolver as bruxas e os feiticeiros é perfeitamente lógico.

Eis a opinião do sacerdote Igor Kovalevski, secretário geral da Conferência de Bispos Católicos da Rússia.

"No plano histórico, os vereditos de pena de morte eram promulgados pelas autoridades laicas e não pelo Vaticano. Por isso precisamente as autoridades laicas e não eclesiásticas é que têm o direito de reabilitar estas pessoas. Este princípio existe de juree é perfeitamente justificado moralmente. É possível que algumas destas pessoas fossem condenadas injustamente mesmo em conformidade com as normas do direito daquela época."

Um dos iniciadores do actual movimento de absolvição das bruxas e feiticeiros da Europa Medieval foi o pastor protestante alemão Hartmut Hegeler. Chegou a manifestar a esperança de que nos templos dos países da União Européia sejam celebradas missas de réquiem em homenagem aos absolvidos.

A decisão das autoridades da Alemanha e da Bélgica de justificar as bruxas e os feiticeiros provocou discussão na comunidade internacional. Alekssei Yudin, estudioso russo de religiões, acha que a idéia de reabilitação, além de desnecessária, é ridícula, tanto mais que é justificada apenas uma pequena parte de executados, enquanto que o número total de condenados foi muito maior.

"Não está clara a motivação destas ações. Se existe a vontade de justificar o seu passado, então é preciso rever toda a história humana, o que se afigura uma tarefa totalmente ridícula. O mais provável que uma certa parte da sociedade necessite de processos absolutórios e foi precisamente ela que assumiu a iniciativa de revisão destas causas."

Feiticeiros e bruxas existiram não somente na Europa Medieval que professava o cristianismo ocidental: esta gente houve também na Rússia mas a envergadura de perseguições nos países do cristianismo oriental foi incomparavelmente menor.

Processos especialmente cruéis deram-se na época de estabelecimento do cristianismo na Rússia, quando se travava a luta activa contra o paganismo. A Igreja Russa reprimia muito mais ferozmente os velhos crentes, ou cisionistas, que tinham renunciado à verdade da doutrina eclesiástica.

O arcipreste George Mitrofanov, historiador da igreja, afirma que na época medieval os feiticeiros e bruxas eram respeitados em algumas regiões do país mais do que os sacerdotes ortodoxos.

"É preciso reconhecer que naquela época na Rússia não existia a ciência teológica e a Igreja não acusava a aspiração de combater a dissidência. Por isso, no nosso pais não houve teólogos, nem hereges. E uma vez que a vida teológica activa não existia, não havia também o problema de combate a bruxas e feiticeiros."

No entanto, na Rússia existiu, apesar de tudo uma organização, cujo nome incluía a palavra inquisição. Em 1711 por decreto do imperador Pedro I foi instituído o Departamento de causas proto-inquisitoriais.

Era um órgão de controle que rastreava a actividade económica e outra dos hierarcas da igreja mas estava destituído de poderes judiciais. Os proto-inquisitores investigavam os casos de infrações e informavam disso o Santo Sínodo. A inquisição do imperador Pedro existiu durante cerca de vinte anos e foi eliminada em 1727.

A actual tentativa de reabilitar os que pereceram nas fogueiras da inquisição não é a primeira na história da Europa. A direção do Terceiro Reich da Alemanha, que existiu no período de 1934 a 1945, avaliou os processos medievais contra as bruxas como genocídio do povo alemão.

Reinhard Heydrich, um dos nazis que faziam parte do círculo mais próximo de Himmler, chegou a encarregar os seus subalternos de verificar secretamente a origem do clã Himmler. Não se sabe ao certo, o que é que eles tinha encontrado, mas Himmler foi informado que a sua bisavó Margareta Himbler tinha sido queimada numa fogueira a 4 de abril de 1629.

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